Lucas Paris

Lucas Paris

EstiloPop
Cidade/EstadoSão Paulo / SP
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Release

No calendário do futuro

Imagine uma sala vazia, banhada de quietude, mas ensolarada. Ali está um moleque de 7 anos, confortavelmente instalado em frente a um piano. Ele estica os dedos pelas teclas como a procurar uma trilha. Não a sonora, que, inconscientemente, já carrega - embora ainda intocada. Mas a própria, a de uma carreira musical. Lucas Paris, por vezes, até tentou se distanciar de melodias, das harmonias e do ritmo. Não deu. Aos 14, já adolescente, voltaria ao compromisso natural: assumir-se músico. Na sua própria definição, deduz-se seu quê artístico: “Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais fortes, dos cafés mais amargos e das pessoas mais poderosas! Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Um dia, você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: FODA-SE...eu adoro voar”!

Virou cantor. Não assim, na base da bravata, dizendo aos amigos nas noites curitibanas “Aí, sou cantor”. Foi assim, não. Teve três professores, cada um com um ensinamento diferente a implantar-lhe. Pediu-se um violão a acompanhá-lo, procurando criar intimidade maior do que a visão à distância de um piano de cauda. Até chegar aqui, a este primeiro CD que leva o seu nome, foram muitos acordes jogados fora, experiências das mais diversas. Transmutações.

Em 12 canções e 46 minutos, Lucas apresenta sua proposta sem firulas, efeitos, excessos ou ecletismo no pior sentido – sabe quando o cara atira para todos os lados e vê onde acerta? É baladeiro. Ponto. Isso é claro, claríssimo. Está na mesma plataforma que o Kid Abelha. A música que apresenta é voraz na leveza das levadas, nos violões na base, nos silêncios e nas respirações de apelo popular. Popão rasgado. Lucas bebe de um monte de gente que começou como ele, atrás de um caminho. Marisa Monte - uma de suas influências - em sua primeira aparição, no fim dos anos 80, no extinto Jazzmania, no Arpoador, Rio, atirou numa platéia recheada de celebridades, amigos e mais amigos de Nelson Motta, uma misturada de gêneros. Subiu ao palco desconhecida, desceu diva. Até aquele momento ela não era compositora. Não tinha a menor idéia de como compor.

Lucas também não. Quer escrever melodias – e letras breve. Mas por enquanto se adequa. Pinça, aqui e ali, as músicas que, em sua opinião, precisam de sua voz. De sotaque próximo ao do rei do pop, Lulu Santos, “Ligado em você” é dessas. Gruda o refrão. Ele faz grudar. “Qual é o nome dela” é como se Roberto Carlos tivesse pedido carona no calhambeque do Erasmo 90. O encontro, hoje raro, está separado na alma pelo instrumental contemporâneo da faixa.

Lucas segue romantizando-se em “Eu vi você chorar”, de tons “o amor é azulzinho”, diria Djavan, que tem contraponto vocal quase rap, presente de uma modernidade emprestada pelo Yahoo Studio, da turma do produtor Zé Henrique. A captação, capítulo à parte, é excelente.

Até chegar na regravação de “Garotos” (Leoni), que emula o arranjo original, é figura decorativa. Serve para identificar, no meio do disco, como ele se auto-referencia. É dali para a frente, com duas baladonas de tons altos, como “Não se vive outra vez” e “Qualquer condição”, que o disco se sedimenta concretamente. A olhar por ele, está Dudu Falcão, letrista, um dos melhores versionistas do Brasil. Entrou em estúdio com Lucas, inclusive, nos contatos iniciais.

A identificação com a música romântica é grande. Poderia-se aventar uma possibilidade de semelhança de timbre e entonação com Fabio Jr. Mas as formulações são distintas, como em “O vento levou”, que bem poderia estar no disco do cantor. Um passo adiante, entretanto, vem “Retrato do amor”, fotografia pop de cores roqueiras, cimentadas com riffs de guitarra quase sutis, algumas delas juntas fazendo pequenos detalhes.

E, como que de volta ao piano, à sala vazia, banhada de quietude, mas ensolarada, “Todas as luzes”, de introdução minimalista ao violão e crescendo sob um arranjo quase roupa-nova, conclui o caminho de Lucas Paris. Cheio de intenções outras, que não exatamente se fazer ouvir pelos amigos, Lucas acerta. Há no primeiro disco do hoje cantor, amanhã compositor, 12 canções de orgulhosa exibição. Canções de um artista que põe John Mayer, Lenine, Nelly Furtado e Snow Patrol na lista de preferidos. E de cuja intenção não se pode duvidar. A de deixar o moleque do piano no livro das lembranças e pôr o artista de talento no calendário do futuro.

Mario Marques / 2007

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